domingo, 9 de maio de 2010

Queimaduras

Antes de falarmos em queimaduras se faz necessário que falemos da pele e suas características.

Fisiologia da pele

A pele é o maior órgão do corpo humano; protege o organismo contra substâncias nocivas, sejam elas líquidas, sólidas ou gasosas, além de microrganismos, parasitas e insetos. É um órgão de sensibilidade, pois é a rede do tato, com o auxílio da qual percebemos a forma, dimensão e temperatura dos objetos. É também um órgão de respiração (de pouca intensidade no homem). Além disso, possuí função excretora, eliminando suor e secreções sebáceas, auxilia no fenômeno de regulação térmica do organismo pela eliminação do suor, contribuindo para que a temperatura do corpo permaneça constante, independentemente das variações externas.

Camadas da pele

A epiderme é a camada mais superficial da pele, constituída pelo tecido epitelial. Nos locais de ação mecânica acentuada, como as solas dos pés, a epiderme é protegida pela queratina. Há ainda a melanina, que é responsável pela coloração da pele; essa camada não possui vascularização.
A derme é a camada situada logo abaixo da epiderme e é formada por tecido conjuntivo e apresenta vasos sanguíneos que realizam sua nutrição. É essa camada que mantém a pele sob constante tensão elástica e é onde se forma as impressões digitais.
A hipoderme ou tecido subcutâneo é a continuação da derme, formada também por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e linfáticos, nervos etc. Armazena lipídeos, protege o corpo e regula a temperatura.



Fonte: http://www.poderdasmaos.com/site/pub/bancoimg/bancodeimagens/curiosidades/pele%5B1%5D.jpg


Introdução a Queimaduras

São lesões dos tecidos orgânicos causadas por exposição ao calor e frio excessivos, produtos químicos, eletricidade, radiação, atrito ou fricção.

Fisiopatologia

As principais alterações fisiológicas que ocorrem num processo de queimadura são: aumento de permeabilidade capilar e edema. A lesão térmica determina a exposição do colágeno no tecido afetado levando à liberação de histamina. A histamina juntamente com outras cininas ativa o sistema do ácido arquidonico liberando prostaglandinas. Todos esses mediadores inflamatórios aumentam a permeabilidade capilar aos líquidos com consequente edema.

Etiologia

  • Queimaduras térmicas: São decorrentes do contato ou exposição a uma fonte de calor (fogo, vapor e objetos quentes); ou frio(gazes especiais, temperaturas excessivamente baixas, e líquidos como o CO² e o nitrogênio);

  • Queimaduras químicas: São decorrentes da ação cáustica aguda causada por um determinado agente químico, estas queimaduras são de grande importância e gravidade. São eles: ácidos fortes( sulfúrico ou nítrico), bases(soda cáustica )e outros.

  • Queimaduras elétricas: São causadas pela transformação da energia em calor, os efeitos variam dependendo do tipo da voltagem e amperagem da corrente, podendo ocorrer alterações que produzem distúrbios: respiratórios, circulatórios e do SNC. As queimaduras são invariavelmente graves (em alguns casos o tecido gorduroso, músculos e até ossos podem ser comprometidos), podendo resultar até mesmo em morte no local do acidente.

  • Queimaduras radioativas: Causadas comumente pela exposição excessiva aos raios ultravioletas advindos do sol, esta radiação atinge a epiderme(camada superficial da pele) danificando as células, que liberam substâncias químicas que ativam os receptores da dor caracterizando ardência localizada. Há também as queimaduras causadas por agentes radioativos como o cloreto de césio-137 (CsCl), quer pela exposição ou contato pode ocasionar queimaduras graves, deformidades irreversíveis ou até a morte.

As queimaduras mais comuns

São queimaduras mais comuns aquelas causadas por líquidos aquecidos(água, leite, café, gorduras quentes), geralmente em casa e na cozinha. E as crianças, infelizmente são as maiores vítimas desse tipo de acidente. Em segundo lugar estão os acidentes com álcool, sempre graves e importantes e acontecem, geralmente nas churrasqueiras, fogueiras, acampamentos etc.
Entretanto a mais invasiva é a elétrica, que representa a forma mais agressiva de trauma, e tem como característica um ponto de entrada e outro de saída, afetando diversas estruturas no corpo, tais como: nervos, vasos, músculos, pele, tendões e ossos, sendo frequentes as amputações em sua decorrência.

A queimadura extensa é um trauma catastrófico por ser uma agressão aflitiva ao paciente, nos seus aspectos psicológicos, financeiros e de sofrimento para todos os envolvidos, seja o profissional, o cliente ou a sua família.

Classificação das queimaduras

Quanto ao grau:

Determinar o grau da lesão é determinar a profundidade da queimadura.

As queimaduras são divididas em três graus conforme o quadro a seguir
Primeiro grau superficial Segundo grau parcial Terceiro grau total
Agente provável Exposição ao sol e Raios UV Exposição limitada a líquidos, vapor, fogo ou agentes químicos Exposição prolongada ao fogo, objetos quentes ou agentes químicos. Contato com alta voltagem
Cor Vermelho Rosa Branca, translúcida, amarelada ou marrom
Superfície queimada Seca, sem flictenas (bolhas) e pequeno edema Úmida, inúmeras flictenas (bolhas) com descamação Seca e rígida pela trombose dos vasos superficiais
Sensação Dor Muita dor Indolor ou mínima
Cicatrização 3 a 6 dias 10 a 21 dias Necessita de implante

Queimadura de primeiro grau: São queimaduras leves onde ocorre um eritema no local seguido de edema e dor variável; não se formam bolhas e a pele não se desprende. Não desenvolvem hemodinâmicas e não tem alterações clínicas significativas. Na evolução dos casos não surgem cicatrizes, mas a pele pode permanecer hipercrômica no início, tendendo a normalizar por completo com o tempo (foto 01).

Queimadura de segundo grau: Nessas queimaduras ocorre destruição maior da epiderme e derme com dor mais intensa e normalmente aparecem flictenas (bolhas) no local, com desprendimento total ou parcial da pele afetada. A recuperação dos tecidos é mais lenta e pode deixar cicatrizes e manhas claras ou escuras (foto 02).

Queimadura de terceiro grau: Lesão de alta complexidade onde há uma destruição total de todas as camadas da pele: a epiderme, a derme e até o tecido celular subcutâneo, os músculos e o tecido ósseo, podendo o local ficar esbranquiçado ou carbonizado (escuro). A dor é geralmente pequena, pois a queimadura é profunda e danifica as terminações nervosas da pele. Pode ser grave ou fatal, dependendo do percentual da área corporal afetada. Em sua evolução costumam deixar cicatrizes, podendo necessitar de tratamento cirúrgico e fisioterápico posterior para retirada de lesões e aderências que venham afetar a movimentação. Tardiamente as cicatrizes podem originar carcinomas de pele sendo, portanto, fundamental o acompanhamento dessas lesões (foto 03).

Observação: Queimaduras de quarto grau: Apresentam áreas corporais total ou parcialmente carbonizadas.

Foto:01.................................................................................................................... Foto:02

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Foto:03












www.queimados.com.pt/Portals/0/imag12.j
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Quanto a superfície corporal queimada:

Para o cálculo da superfície corporal queimada (SQC) podem ser utilizados dois métodos:
  • Método de Lund – Browder
  • Regra dos Nove.
Nos serviços de emergência, durante o atendimento inicial ao paciente queimado, utiliza-se a regra dos nove que, apesar da praticidade, é necessário conhecimentos científicos.

ÁREA ============ADULTO ======CRIANÇA
Cabeça e pescoço======= 9% ===========18%
MSD================ 9% ===========9%
MSE================ 9%=========== 9%
Tronco anterior ========18%========== 18%
Tronco posterior =======18%===========18%
Genitália ============ 1% ============1%
Coxa direita ==========9%============ 4,5%
Coxa esquerda=========9% ===========4,5%
Perna e pé direito ====== 9%=========== 4,5%
Perna e pé esquerdo =====9%=========== 4,5%

De maneira prática, considera -se a palma da mão do paciente equivalente a 1% de SCQ.

Classificação de pequeno, médio e grande queimado, de acordo com o grau da queimadura e a superfície corporal atingida.(Piccolo Et Al 2002)

Pequeno queimado

  • Primeiro grau em qualquer extensão;
  • Segundo grau com área corporal de até 5% em crianças<> de 12 anos.

Médio queimado

  • Segundo grau com 5% a 15% em crianças<> de 12 anos;
  • Terceiro grau com até 10% em adultos quando não houver comprometimento da face, mão, períneo e pé;
  • Menos de 5% nos<> de 12 anos;
  • Terceiro grau com mais de 10% no adulto e mais de 5% em <>
  • Queimadura de períneo;
  • Queimadura por corrente elétrica;
  • Queimadura de mão, pé, face, pescoço ou axila (terceiro grau);
  • Queimadura de qualquer extensão que tenha associada a ela lesões inalatória, poli-trauma, trauma de crânio, choques, insuficiência renal, cardíaca, hepática, diabetes e outros quadros graves com distúrbios hidro eletrolíticos, quadros agudos pulmonares, cardiovasculares, infecciosos e demais complicações.

Devem ser encaminhadas a um serviço especializado as pessoas portadoras de queimaduras:

  • Por inalação, químicas, por eletricidade, por raio;
  • Com espessura parcial comprometida superior a 10% da superfície do corpo;
  • Que envolvem face, mãos, pés, genitália, períneo e articulações importantes;
  • Que possuem doença de base;
  • Acompanhadas de traumas de quaisquer natureza;
  • De terceiro grau em qualquer idade.

Primeiros socorros em queimados

  • Resfrie o local com água em temperatura ambiente. A água promove a limpeza do local e diminui a dor;
  • Retire pertences da vítima: anéis, pulseiras, relógio, pois podem ficar mais apertados se houver inchaço;
  • Coloque um pano limpo e úmido sobre a queimadura;
Não fure as flictenas (bolhas);

Queimaduras graves

São lesões extensas (acima de 20% de extensão) e queimaduras de terceiro grau;

  • Mantenha liberada as vias aéreas e certifique -se de que a vítima respira bem, principalmente em queimaduras na face;
  • Verifique SSVV, a vítima pode entrar em estado de choque;
  • Afrouxe as roupas;
  • Eleve se possível, as pernas da vítima;
  • Procure socorro médico e mantenha a vítima deitada, até que este chegue.

Queimadura por produtos químicos

  • Aplique água na pele, na área queimada é importante para diminuir a extensão do ferimento, porém se deve ficar atento ao tipo de produto químico que causou a queimadura, em algumas pesquisas, podemos notar que certo tipo de produto químico em contato com a água poderá ocasionar lesões mais graves;
  • Deixe a água correr sobre o ferimento e remova as roupas contaminadas;
  • Coloque um pano limpo na área queimada, para diminuir a contaminação.

Queimaduras por eletricidade

  • Desligue a energia elétrica antes de iniciar o atendimento;
  • Não tente separar a vítima do contato com os fios, a menos que a energia esteja desligada.
  • Trate as queimaduras no ponto de entrada e saída da corrente elétrica, lavando o local com água e colocando um pano limpo;
  • Procure socorro médico imediatamente.

Queimaduras solares

  • Refresque a pele com compressas frias;
  • Faça a pessoa ingerir bastante liquido, mantendo-a na sombra, em local fresco e ventilado.

Queimaduras nos olhos

  • São produzidas geralmente por substâncias irritantes: ácidos, álcalis, água quente, vapor, cinzas quentes, pó explosivo, metal fundido e chama direta; nesse tipo de queimadura tais medidas deverão ser tomadas:
  • Vire a cabeça da vítima para o lado, mantendo o olho não lesado numa posição mais alta para evitar que este seja atingido;
  • Lave o olho lesado com bastante água em temperatura ambiente, irrigando todo o olho a partir do canto interno até o canto externo;
  • Deve - se lavar os olhos em água abundante ou se possível, com soro fisiológico, durante vários minutos; lembre- se de não jogar a água em jatos;
  • Vendar bem os olhos (o olho sadio também) com uma gaze ou pano limpo;
  • Levar ao médico o mais rápido possível;
  • Se houver queimaduras nos olhos por luz intensa, cubra os olhos da vítima com compressas escuras, impedindo a passagem da luz.

Importante:

  • Não toque na área afetada e não fure as flictenas (bolhas);
  • Não retirar pedaços de roupas grudadas na pele. Se necessário recorte em volta da roupa que esta sobre a região afetada;
  • Não use manteiga, pomada, creme dental ou qualquer outro produto doméstico sobre a queimadura;
  • Não cubra a queimadura com algodão;
  • Não use gelo para resfriar a região afetada;
  • Todo paciente deve ser reavaliado 48 a 72 horas após o acidente;
  • Não apagar o fogo na pessoa afetada, com extintor, apenas abafar o foco com um pano ou fazendo-a rolar pelo chão.

Cuidado:

A inalação de fumaça pode causar queimaduras nos pulmões e brônquios mesmo que não haja queimadura externa visível.

Cuidados de enfermagem nos processos dolorosos e atendimento psicológico

Ao abordar a questão da dor no tratamento de cliente queimado, é um dos grandes desafios que a equipe de enfermagem precisa superar, pois o controle da dor torna- se quase impossível. Existe uma relação bastante significativa entre a dor e o medo, a ansiedade e a infelicidade, fatores que exacerbam durante a manipulação das lesões em consequência da realização dos curativos. Todos os pacientes que tiveram seus corpos queimados experimentaram a dor física e psicológica que frequentemente se superpõe. A dor física é geralmente focalizada em atividades específicas tais como: a limpeza da ferida, o desbridamento, a troca de curativo e fisioterapia.
A ansiedade antecipada sobre procedimentos que podem ou não ser dolorosos pode causar um aumento progressivo no grau de dor experimentado pelo paciente
Quase todos os tipos de queimaduras apresentam fisiologicamente hiperalgesia, mas a intensidade dolorosa é um fator imprevisível, estando também correlacionado com a percepção da dor pelo próprio paciente e fatores emocionais ligados ao trauma sofrido.
O paciente queimado encontra - se em estado de extrema dor exterior e interior. Portanto cabe à equipe de saúde além de cuidar de suas feridas, dar mais atenção às suas queixas interiores. O paciente começa a se achar feio e passa a odiar sua imagem no espelho, pois a queimadura causa lesões, às vezes, irreversíveis na pele e deixa marcas, às vezes permanentes.

Profilaxia

As lesões resultantes das queimaduras são isquêmicas como consequência da trombose causada pelo trauma. As queimaduras profundas apresentam trombose em todas as camadas da pele atingidas e a diminuição da oxigenação nesses tecidos, dificultam o crescimento dos capilares e a cicatrização da ferida, pois todos os tecidos do nosso corpo requerem oxigênio para que se mantenham viáveis.

Nas queimaduras profundas há uma grande quantidade de tecidos necróticos, o que facilita o desenvolvimento de infecção, pois esses tecidos fornecem nutrientes para as bactérias que requerem pouco oxigênio para a sobrevivência, consumindo – o e diminuindo ainda mais a quantidade de oxigênio disponível para os tecidos.
Os curativos de pacientes que sofreram lesões relacionadas a queimaduras, tem sido realizados frequentemente, por profissionais de enfermagem com base a uma rotina pré - estabelecida nos serviços especializados.
O mercado oferece uma adversidade de produtos para o tratamento de queimaduras, os quais tem sido eficazes no tratamento das lesões.
Profissionais da saúde afirmam que o “cuidado” com as feridas, não pode ser um procedimento automático, mas sim um “exercício científico” em que a equipe de enfermagem
deve atuar de forma consciente visando aplicar medidas que possam facilitar o processo de cicatrização.
Cicatrização: é a transformação do tecido de granulação em tecido cicatricial, sendo a cicatriz a etapa final do processo curativo da ferida.

Agentes tópicos

O termo agente tópico representa uma substância utilizada na superfície da pele, podendo ter ação antimicrobiana ou não. Alguns agentes tópicos ajudam no desbridamento dos tecidos. Dentre os diferentes tipos de agentes tópicos, existem os cremes que são constituídos por emulsões de água e óleo, em que a quantidade de água é superior ao óleo. Algumas instituições optam na utilização da Sulfadiazina de Prata 1% para o tratamento das queimaduras, com a finalidade de desbridar tecidos necrosados e combater a infecção local. A Sulfadiazina de Prata 1% é um composto de nitrato de prata e sulfadiazina de sódio efetivo contra uma ampla microbiota de gram negativas como: Escherichia Coli, Enterobacter Klebsiella sp e Pseudomonas aeruginosas, além de incluir bactérias gram positivas como Staphylococus aureus e também Cândida Albicans.
Há alguns estudos que comparam a utilização da Sulfadiazina de Prata1 % com outras substâncias como o mel, o curativo colóide e incorporada a outros produtos como a membrana amniótica e com um substituto temporário da pele composto de polietileno glicol, hidróxido de metacrilato e sulfóxido de dimetil adicionado a Sulfadiazina de Prata1%.
Esses ingredientes foram incorporados a uma base de nylon e lycra que resultou na formação de uma lâmina elástica e flexível que permite o contorno do corpo. Durante a utilização desse produto observou - se a redução do índice de infecção.
Por volta de 1976, estudiosos sobre o tratamento de queimaduras vem preparando um composto de Nitrato de Cério e Sulfadiazina de Prata, com o objetivo de reduzir a infecção de feridas. A combinação dessas duas substâncias levam à deposição de uma fina camada de sais de cálcio sobre a lesão, formando uma barreira contra as bactérias.
A Sulfadiazina de prata 1% é um dos agentes tópicos mais utilizados no tratamento de queimaduras, sendo recomendada em queimaduras, de segundo e terceiro grau . É facilmente aplicada e removida, não provoca dor e apresenta poucos efeitos colaterais. Como um dos efeitos colaterais da Sulfadiazina de Prata1%, tem sido relatado episódios de discreta leucopenia, depois de poucos dias de uso, e de alergias em menos de 5% dos pacientes sem necessidade de interrupção do uso.
Os pacientes tratados com Sulfadiazina de Prata 1% relatam sensação de frescor após aplicação desse conteúdo, segue sob PM, que recomenda à sua utilização nos primeiros dias de tratamento da queimadura, enquanto à presença de tecido necrótico ou infecção.
Esse agente tópico deve ser trocado duas vezes ao dia em razão da oxidação da prata.

Entretanto há dificuldades para atender a essa recomendação, quando a Sulfadiazina de Prata 1% é utilizada em curativos oclusivos, em função do trauma físico e emocional que cada curativo provoca ao paciente e do alto custo dos recursos utilizados.
Outros recursos também mais utilizados são o Acetato de Sulfanamida 10%, a Nitrofurazona 0,2% e o creme de Gentamicina. O creme de Nitrofurazona 0,2% apresenta ampla ação bacteriostática, embora menor que a da Sulfadiazina de Prata 1%, quando as lesões apresentam se limpas com formação de tecido de granulação, tem sido utilizado o creme de Nitrofurazona 0,2%, sendo que os pacientes relatam dor e sensação de queimação após a aplicação.
Há relatos em literaturas de que esse creme é realmente bastante doloroso à aplicação. O que também apresenta toxidade ao crescimento de queratinócitos em cultura. Assim sua utilização em feridas limpas com presença de tecido de granulação pode ser contra indicada em razão da dor provocada após a aplicação. Esse creme pode causar dermatite de contato (prurido e edema), fato esse também observado nos serviços de saúde.
Em algumas literaturas, também esta documentado o uso de Acetato de Sulfanamida 10% e o creme de Gentamicina 0,1% foi amplamente utilizado em tratamento de queimaduras antes do advento da Sulfadiazina de Prata 1%. Esse creme é ainda considerado como uma alternativa importante no combate a infecção, entretanto, pode causar acidose metabólica, pela inibição da anidrase carbônica e é dolorosa à aplicação.
Dentre as diversas opções para o tratamento de queimaduras observa- se à recomendação da utilização das pomadas enzimáticas e dos Ácidos Graxos Essenciais (AGE), que são compostos por ácido linoleico, ácido caprílico, vitamina A, E lecitina de soja. Os AGE são precursores de substâncias farmacologicamente ativas envolvidas no processo de divisão celular e diferenciação epidérmica. Possuem capacidade de modificar reações inflamatórias e imunológicas, alterando funções leucocitárias e acelerando o processo tecidual. Os AGE podem ser utilizados diretamente sobre o leito da ferida ou embebidos em gazes estéreis, e devem ser trocados no máximo a cada 24 horas. Já as pomadas enzimáticas como colagenase, apresentam caráter enzimático e desbridante, estimulando, indiretamente a formação do tecido de granulação e posteriormente, a reepitelização.
Paralelamente ao uso dos agentes tópicos deve - se instituir práticas que devem incluir a avaliação precisa das lesões não só no que se refere à descrição de suas características e da evolução diária, mas também à descrição das reações e dos efeitos colaterais que esses agentes podem provocar.

Produtos naturais

No tratamento de queimaduras, encontramos várias referências sobre a utilização do mel e da papaína. O mel mostrou - se mais eficaz no tratamento das queimaduras promovendo a cicatrização em tempo menor que a Sulfadiazina de Prata 1%. As substâncias contendo açúcar como o mel e derivados da cana de açúcar, vem sendo usado há vários anos no tratamento de lesões à pele com excelentes resultados clínicos. Considera - se que propícia os seguintes efeitos: rápida diminuição da congestão passiva e dos edemas locais, estimulo da epitelização, granulação tissular e ação antibacteriana.
Sabe-se que o mel é composto por vitaminas, concentrações de ácido fórmico, enxofre, cloro e outros elementos químicos, mas o seu principal efeito é desconhecido. O mel inibe o crescimento de cepas gram- negativas e gram- positivas, devido ao baixo pH, e promove uma barreira viscosa que impede a invasão de microrganismos, bem como a perda de fluídos das lesões. Também contém enzimas como a catálise, que auxilia no processo de cicatrização. Promove efeito osmótico suficiente para inibir o crescimento microbiano e quando diluído, produz peróxido de hidrogênio, que é um agente antimicrobiano.

Outro agente tópico utilizado é a papaína, que é um complexo de enzimas proteolíticas, retirada do látex do mamão papaia (Carica papaya), cujo sítio ativo é portador de um radical sulfidrila (SH), tornando – se difícil sua associação com outro recurso terapêutico, visto que ela sofre oxidação pela substituição do enxofre, por derivados de ferro, oxigênio e iodo. Seu mecanismo de ação ocorre através da dissociação das moléculas de proteína, resultando em desbridamento químico, por ser uma enzima de fácil deterioração, deve ser sempre mantida em lugar fresco, seco, ventilado e protegido da luz.
O carvão ativado é outro agente muito utilizado em lesões infectadas, tem a ação de absorver o exsudato da lesão e diminuir seu odor fétido.

Soluções

As soluções são utilizadas para realização da anti – sepsia da pele e mucosas com a finalidade de prevenir a colonização, porém algumas vezes, também são utilizadas em curativos úmidos . Entre as soluções citadas encontramos o ácido acético, a solução de Dakin , o nitrato de prata, a tripla solução de antibióticos ( Sulfametoxazol, Trimetoprima 50.000U, Polimixina B 200.000U e Neomicina 40mg), o Gluconato de Clorexidina e a Solução de PVP – I( Polivinil Pirrolidona Iodada). O ácido acético 0.5% possuí ação bactericida para microrganismos gram – negativos e gram – positivos em especial para P. aeruginosa.
Em um estudo, no qual foi avaliada a toxidade de quatro agentes tópicos antimicrobianos in – vitro, solução de PVP – I 1%, solução de hipoclorito de sódio 5% ( liquido de Dakin), ácido acético 0.25% e peróxido de hidrogênio 3% em cultura de fibroblastos humanos em culturas de S. aureus, constatou – se que as soluções de ácido e peróxido de hidrogênio apresentaram mais toxidade para os fibroblastos que para a bactéria e que as diluições de PVP – I (1:1000) e hipoclorito de sódio (1:1000) não apresentaram nenhuma toxidade para o fibroblasto, mas sem atividade bactericida, entretanto deve – se destacar que a utilização de PVP – I deve ser cuidadosa com atenção especial à possibilidade de desenvolvimento de reações alérgicas e ao fato de que seu uso pode ser limitado pela absorção sistêmica acarretando problemas renais e de tireóide.
A solução de Clorexidina é outro agente tópico que age em bactérias gram – positivas e gram – negativas.
As soluções de ácido acético 0.25% também foram citadas como eficazes na redução de microrganismos das lesões. Mediante pesquisas, observamos que o ácido acético 0.5% demonstrou ser tóxico para o fibroblastos em cultura, reduziu a proliferação de células epiteliais e retardou a cura dos tecidos para enxertos. Assim as concentrações 0.5% são tóxicas para regeneração do epitélio.
A solução de ácido acético é adequada para pequenas lesões infectadas. A solução de Dakin (hipoclorito de sódio 0.5%) é considerada bactericida para Stafilococcus sp e Streptococcus sp, fungos e alguns agentes virais. As soluções com concentração 0.5% tem ação bactericida eficaz, mas possuem toxidade para os fibroblastos e queratinócitos em cultura. Já as soluções de Dakin 0.25% tem apresentado toxidade mais leve, porém provoca dor. A prolongada utilização deste produto pode levar irritação à pele. Em menor concentração, essa solução é considerada como alternativa para o tratamento de pequenas lesões infectadas por causa de sua leve toxidade para os tecidos.
Uma outra solução é a de Nitrato de Prata 0.5% que possuí ação bactericida eficaz para gram – positivas (S. aureus). A infecção local pode ser controlada com esta solução, que é extremamente hipotônica e eletrolítica (sódio e potássio). Entretanto, com o seu uso podem ocorrer reações de hipersensibilidade por causa do seu potencial tóxico.

A tripla solução de antibiótico ( Sulfametoxazol, Trimetoprima 50.000U, Polimixina B 200.000U e Neomicina 40mg) pode ser utilizada nos curativos de lesões infectadas graves. Possuí ação bactericida moderada para gram – negativas e gram – positivas e é indicada por provocar sensação de frescor. A solução de Gluconato de Clorexidina possuí ação bactericida para diferentes tipos de cepas positivas e negativas, no entanto seu uso pode causar dermatite de contato.

Substitutos temporários da pele

Os substitutos temporários da pele são materiais eficazes no tratamento de queimaduras superficiais recentes e também na cobertura da pele enquanto aguarda – se o enxerto definitivo. Podem ser trocados a intervalos regulares ou mantidos até a cicatrização ou enxerto, caso a aderência seja boa e não haja infecção. Considera – se que há três linhas de substitutos temporários da pele são eles:
  • Substituto de origem animal, como enxerto homólogo, membrana amniótica, pele de porco, pele de embrião bovino e colágeno;
  • Substitutos elaborados à base de substâncias, tais como: silicone, poliuretano e hydrom;
  • Substitutos associados à matéria orgânica e uma película sintética, tais como colágeno e silicone.
As propriedades dos substitutos de pele devem ser: aderência, transporte do vapor de água, elasticidade, durabilidade, baixa antigenicidade e toxicidade, capacidade hemostática e ação antibacteriana. Podem ainda ser classificados em substitutos biológicos que constituem os aloenxertos (homoenxertos), xenoenxertos (heteroenxertos) e membrana amniótica; substitutos
sintéticos que são constituídos por membranas de polímero de silicone, membranas de cloreto de polivinil, metilmetacrilato, membrana de polipropileno com poliuretano, membrana de silicone com nylon ligado a peptídios de colágeno dérmico, e membrana impermeável com camada profunda de partículas de hidroativos agregados em polímero inerte; substitutos biossintéticos que incluem a película microfibrilar de celulose pura e a membrana de silicone com matriz dérmica de colágeno e glicosaminaglicanos.

Conclusão

Há um consenso quanto ao uso da Sulfadiazina de Prata 1% no tratamento de queimaduras com a finalidade de desbridar tecidos necrosados e combater a infecção local.
Os substitutos temporários da pele são materiais eficazes no tratamento de queimaduras superficiais recentes e também na cobertura da pele enquanto aguarda-se o enxerto definitivo. Podem ser trocados a intervalos regulares ou mantidos até a cicatrização ou enxerto, caso a aderência seja boa ou não haja infecção.
Nesse sentido, a equipe de saúde que atua em Unidades de Queimados necessita manter-se atualizada, não se prendendo a tratamentos convencionais, sem fundamentação científica.

Controle de infecções hospitalares (CHI)

No âmbito hospitalar existem vários tipos de doentes e patologias (microrganismos). O paciente vítima de queimaduras deve ser isolado dos outros pacientes e todo procedimento assistencial ao paciente deve ser realizado de forma estéril para evitar infecções provenientes da falta de defesa do indivíduo .

A pele, além da função termo reguladora, tem a função de proteção contra agentes microbianos, que já vimos anteriormente. Se a pessoa perde sua pele na queimadura, consequentemente estará suscetível as infecções hospitalares.

Curiosidades sobre queimaduras

A queimadura de primeiro grau, provocada por água viva, medusa ou caravela é originada pelo contato direto das membranas do invertebrado com a superfície cutânea. Esse contato casual libera substâncias químicas e tóxicas, que podem provocar sensações dolorosas, urticantes, pruriginosas e edema local.
Tentáculos ou partes das membranas do animal podem permanecer aderidos a pele; estes devem ser retirados com cuidado sem o emprego das mãos nuas, sob o risco de queimar, durante este procedimento, também os dedos do socorrista ou acidentado. Para tal utilize o auxilio de algum artefato plástico ou de madeira. Lave o local queimado, abundantemente com água do mar. Não coloque água doce. No intuito de neutralizar as substâncias tóxicas, amenizando os sintomas da queimadura local.


Glossário

Ácido acético: é um líquido que solidifica a 16,6ºC, incolor, supressor de ar e de cheiro irritante (a vinagre). É solúvel em água e obtido pela oxidação do álcool etílico, pode ser empregado em solução como anti - séptico.

Cininas: grupo de dois ou mais aminoácidos que influenciam as contrações dos músculos lisos.

Prostaglandinas: substância extraída da vesícula seminal do líquido menstrual e amniótico.

Microbiota: população de microrganismos que abitam na pele e mucosas de pessoas normais e sadias.

Glicosaminaglicanos: São heteropolissacarídeos de N- acetil glicosamina e um derivado de ácido urônico.



Cepas: grupo ou linhagem de um agente infeccioso de ascendência conhecida, compreendida dentro de uma espécie e se caracteriza por alguma propriedade biológica e/ou fisiológica.

Xenoenxerto: é o transplante de tecido entre dois indivíduos de espécies distintas (em gênero ou família).

Aloenxerto: é o transplante de tecido entre indivíduos geneticamente diferentes, de uma mesma espécie.

Eritema: vermelhidão da pele que desaparece à pressão do local.

Hemostático: que detém a hemorragia.

Hemodinâmica: estudo dos movimentos e pressões da circulação sanguínea.

Histamina: base orgânica eliminada pelos tecidos e que produz reações alérgicas.

Hiperalgesia: sensibilidade excessiva à dor.

Leucopenia: diminuição dos leucócitos circulantes.

Álcali: substância básica proveniente de um dos seis metais ditos alcalinos (sódio, potássio, rubídio, césio, lítio e frâncio).

Hipercrômica: excesso de pigmentação.

Queratinócitos: tipo de células que compõe 90% da epiderme, e que formam o extrato córneo que está em descamação constante.

Ácido arquidonico: é um graxo essencial, da família dos omegas – 6, formado por uma cadeia de 20 carbonos com quatro duplas.

Anidrase carbônica: enzima que ativa a desidratação reversível do anidrido carbônico presente em um grande número de tecidos animais e nos glóbulos vermelhos, nos quais desempenha um importante papel, favorecendo as trocas gasosas nos pulmões.

sábado, 1 de maio de 2010

Doação de Órgãos

Reflexão

Doar órgãos é um ato de amor!

É preciso olhar sob o ponto de vista do paciente em fila de espera. Imagine...
Tente sentir a angústia de um dia após o outro, aguardando o telefone tocar com a possibilidade de um doador surgir.
Conviva com a deficiência de um órgão frágil, do qual depende sua vida e por muitas vezes, pode morrer enquanto se espera.
Adiciona – se a isso o sofrimento familiar. Todos ficam “doentes” de uma certa maneira. Conseguiu imagina?
Quem sabe, a partir dessa perspectiva, o número de rejeição familiar passe a diminuir!

Quando um transplante é bem sucedido, uma vida é salva e com ele resgata – se também a saúde física e psicológica de toda a família envolvida com o paciente transplantado.

Você doaria seus órgãos?

“Um dia, um doutor determinará que seu cérebro deixou de funcionar e que basicamente sua vida cessou. Quando isso acontecer não tentem introduzir vida artificial por meio de uma máquina. Ao invés disso, dêem sua visão ao homem que nunca viu o sol nascer ou o amor nos olhos de uma mulher. Dêem seu coração a uma pessoa, cujo coração só causou intermináveis dores. Dêem seus rins a uma pessoa que depende de uma máquina para existir, semana a semana. Permita que pegue seu sangue, seus ossos, cada músculo e nervos do seu corpo e encontre um meio de fazer uma criança que não caminha por alguma deficiência a andar. Suas células se necessário, para utilizarem de alguma maneira.
Que um dia um garoto mudo seja capaz de gritar quando seu time marcar um gol e uma menina surda passe a ouvir o barulho da água da chuva caindo.
Se realmente quiserem enterrar alguma coisa sua, que seja suas falhas, fraquezas e preconceitos contra seus semelhantes.
E que além das boas lembranças, fiquem vivas pessoas através de seus órgãos e seu gesto solidário!

Doe vidas... Doe órgãos!

Oração do doador

Ao Deus do meu coração e do meu entendimento, que me proporcionou um corpo saudável e um coração generoso. Fazei que, nenhuma vontade de familiares ou amigos, suplante o meu desejo e determinação de ser um doador de órgãos e de tecidos. Rogo, a todos que tiveram oportunidade e influenciaram em minha vida. Que após a minha morte, reservo – me o direito de agradecendo ao Criador devolver este corpo que serviu de vestimenta ao meu ser, para que continue a servir ao meu Deus e a humanidade. Que assim seja!